Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 13/09/2017 às 16:32:23

Setembro Amarelo

Nos últimos tempos têm aparecido alguns meses coloridos para chamar atenção e mobilizar a população na prevenção do câncer de mama, do câncer de próstata e do suicídio.

O primeiro a aparecer foi o Outubro Rosa. Teve início em 1990, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. As ações são direcionadas à conscientização da prevenção do câncer de mama.

         Em 1999, na Austrália teve início o Novembro Azul, com o objetivo de conscientizar a respeito do câncer de próstata. Começou quase por brincadeira de um grupo de amigos que se comprometeu deixar crescer o bigode durante todo o mês de novembro, como apoio à conscientização da saúde masculina. Foi escolhido o mês de novembro, porque no dia 17 deste mês já se celebrava o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata.

         O objetivo é a sensibilização dos homens para a importância do diagnostico precoce do câncer de próstata. Os homens não têm o hábito de cuidar de sua saúde de forma preventiva. Noventa e cinco por cento dos casos de câncer de próstata já se encontram em estágio muito avançado e grave quando os sintomas começam a aparecer. Por isso, é o segundo tipo de câncer mais mortal entre os homens. Daí a importância de prevenir e descobrir a doença na fase inicial, quando as chances de cura são grandes.

         O setembro amarelo é mais recente e menos conhecido. Pretende conscientizar sobre a prevenção do suicídio. Foi iniciado em 2015, aqui no Brasil, pela Associação Brasileira de Psquiatria (ABP), o Centro de Valorização da Vida (CVV) e Conselho Federal de Medicina (CFM). Foi escolhido o mês de setembro porque no dia 10 deste mês já era comemorado internacionalmente o Dia de Combate ao Suicídio.

         De acordo com o professor da Unicamp, Neury Botega, 40 brasileiros se suicidam todos os dias. É uma taxa superior às vítimas de AIDS e da maioria de tipos de câncer. Os jovens são as maiores vítimas. De 1,3 milhão jovens que morrem no mundo cada ano, 11,6% são vítimas do trânsito e 7,3%, vítimas de suicídio. De 2002 a 2012, dentro de 10 anos, portanto, houve um aumento de 15,3% de jovens brasileiros que tiraram a própria vida.

         Recentemente foi divulgada uma série de vídeos intitulados “Treze Porquês” em que uma adolescente americana, antes de cometer suicídio, gravou treze fitas cassetes explicando os motivos e as pessoas que a levaram a tirar a própria vida. Entre os motivos aparecem com insistência o machismo, a violência, o assédio sexual, o bullying, inclusive o bullying virtual, a depressão e a falta de diálogo com os pais.

         No início deste ano houve um alerta para os possíveis perigos de um jogo virtual intitulado Baleia Azul. Acredita-se que tenha provocado mais de cem casos de suicídio de adolescente pelo mundo, vários deles aqui no Brasil.

Embora o número de suicídio seja tão alto, praticamente ninguém fala dele. É um assunto tabu. Muito significativo foi o anúncio no jornal francês Le Monde do dia 27/09/1972: “X e Y nos pedem participar que M deu-se à morte. Ela queria um mundo melhor”. Como se vê é um anúncio totalmente anônimo. Esta não é a saída. Segundo os especialistas na área, a solução passa pela informação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 09 de cada 10 casos poderiam ser prevenidos, se houvesse uma maior conscientização a respeito. Por isso em 2016 a mesma Organização Mundial da Saúde lançou um Guia de Prevenção ao Suicídio.

E nós fiéis católicos como nos posicionamos diante deste grave problema?

         A Bíblia relata alguns suicídios sem, no entanto, condená-los. Em alguns casos, o suicida invoca a Deus como seu Senhor e professa a fé na ressurreição (2Mc 14,41-46).

A Igreja católica foi aos poucos explicitando seu ensinamento a respeito. Hoje a orientação é que cada um de nós deve se responsabilizar por sua vida diante de Deus. Somos os administradores e não os proprietários da vida que Deus nos confiou. O cristão tem, além do dever cuidar de sua própria vida, a obrigação de propiciar ajuda solidária a quem precisa e contribuir para diminuir o número de suicidas. Engajar-se nas campanhas propostas pelo Setembro Amarelo, corresponde totalmente aos ensinamentos da Igreja católica. O convite é para que não nos omitamos.

Também faz parte do ensinamento da Igreja a consideração de que distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provação, do sofrimento ou da tortura podem diminuir a responsabilidade do suicida. Não se deve desesperar da salvação das pessoas que tiraram a própria vida. Deus pode, por caminhos que só ele conhece, dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar.


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