Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 08/11/2017 às 14:37:23

A Parábola das Dez Virgens

 O ano litúrgico de 2017 está chegando ao seu final. Além, do próximo domingo, mais três e já teremos iniciado o novo ano. Nesta oportunidade de fim e início de ano, a liturgia da Igreja católica apresenta-nos textos bíblicos que apontam para o fim dos tempos e convidam à vigilância. O evangelho do próximo domingo, por exemplo, fala-nos das cinco virgens previdentes e das cinco imprevidentes.

         Vigiar, nos textos bíblicos, significa lutar contra o torpor e a negligência para atingir a meta prefixada, ou seja, a salvação.

Desde os tempos dos profetas o povo do Antigo Testamento fora convidado a vigiar e a sair do torpor. “Desperte! Desperte! Revista-se de força Sião! Vista a roupa de festa, Jerusalém, cidade santa! Pois nunca mais entrarão em você o incircunciso e o impuro” (Is 52,1).

No Novo Testamento, o tema da vigilância aparece, sobretudo, no contexto da segunda vinda de Cristo. A vigilância deve ser a atitude característica daqueles que estão prontos para acolher o Senhor quando ele vier na sua glória. Os evangelhos estão cheios de exortações tais como: “Ninguém sabe nada a respeito daquele dia e hora, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai. Fiquem atentos e vigiem! Porque vocês não sabem quando será o momento. (...). O que digo a vocês, digo a todos: Estejam vigilantes!” (Mc 13,32-37). São Lucas proclama felizes os servos que o Senhor no seu retorno encontrar acordados (Lc 21,37). São Paulo, na primeira carta aos tessalonicenses recorda aos seus fiéis que eles são filhos da luz e do dia, por isso não podem ficar dormindo como os demais. E explica: “De fato, aqueles que dormem, dormem de noite. E aqueles que ficam bêbados, ficam bêbados de noite. Mas nós, que somos do dia, fiquemos sóbrios, revestindo a arma da fé e do amor, e o capacete da esperança da salvação. Pois Deus não nos destinou para a ira, e sim para possuirmos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5,4-9). No Apocalípse, o Anjo da Igreja de Sardes ao mesmo tempo que é exortado à vigilância, é também ameaçado: “Assim diz aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as suas obras; você tem fama de estar vivo, mas está morto. Seja vigilante e fortaleça o que ainda não morreu, porque suas obras não têm sido bem feitas diante do meu Deus. Lembre-se do que você recebeu e ouviu. Guarde-o e arrependa-se! Caso você não esteja vigilante, eu virei como ladrão, e você não vai saber a hora em que vou chegar” (Apc 3,1-3).   

A conclusão da parábola das cinco virgens previdentes e das cinco imprevidentes que será proclamada no próximo domingo termina assim: “Portanto, fiquem vigiando, pois vocês não sabem qual será o dia nem a hora”.

Esta parábola chama a nossa atenção para a importância da luz. É ela que determina a entrada no banquete. Só entrava quem tivesse sua lâmpada acesa. Mas, para a lâmpada se manter acessa necessita-se de azeite. Na parábola, o azeite significa a fé expressa em boas obras. O azeite só ilumina quando se consome. Da mesma forma, o cristão só consegue manter a luz da fé, quando se coloca com todo o empenho a serviço do Reino, ou seja, quando é capaz de enxergar o pobre que pede socorro, o idoso carente de afeto e de amor, o doente abandonado e sem recursos, a criança faminta que perambula, o migrante que suplica acolhida, o jovem desempregado e sem perspectiva, a vítima de violência e discriminação que clama por respeito e dignidade. 

O grande teólogo latino-americano Gustavo Gutiérrez, comentando esta parábola, assim se expressa: “O evangelho de Mateus, impregnado sempre da experiência eclesial, nos apresenta a comunidade cristã nas dez jovens que esperam o noivo. Nela há pessoas ignorantes e pessoas prudentes. Mateus mostra em várias ocasiões as diferenças e inclusive as divisões que se dão dentro da Igreja. O atraso do noivo vai revelar a situação. No começo todas tiveram a mesma atitude: dormiram. O fato como tal não é censurado nesta passagem. Não está aí a sua ênfase. O que conta é que algumas proveram-se de óleo, e as outras não. Por conseguinte, encontraram-se em condições diferentes na hora da chegada do noivo. O noivo é aqui uma alegoria que nos remete ao Senhor. A sua chegada é um juízo que separa as águas. Aqueles que escutaram a sua mensagem e a colocaram em prática vão participar do Reino. Aqueles que não fizeram do Evangelho a norma de sua vida, ou, talvez, mais exatamente aqueles que só o aceitaram formalmente, o Senhor lhes vai dizer: não os conheço”.


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