Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 14/12/2017 às 11:30:24

“Alegrai-vos sempre no Senhor"

Os textos, que serão proclamados nas celebrações do próximo domingo, terceiro do Advento, são um convite muito forte à alegria.

         A antífona de entrada é o convite do Apóstolo Paulo aos filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo, alegrai-vos! O Senhor está perto (Fl 4,4s). Na oração da coleta pedimos para “chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo”. Na primeira leitura, o profeta Isaías prorrompe num hino de louvor dizendo: “Exulto de alegria no Senhor e minha alma regozija-se em meu Deus; ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa ou uma noiva com suas jóias”. No salmo responsorial, entramos em sintonia com Nossa Senhora e com ela exclamamos: “A minha alma engrandece o Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus meu salvador”. Na segunda leitura é Apóstolo Paulo quem nos convida: “Irmãos, estai sempre alegres!”.

         Em nosso país, estamos vivendo uma situação de incertezas e ameaças. Corremos o risco de ter em nosso país uma legislação que aprova o trabalho escravo. Nossos governantes aprovaram por vinte anos o congelamento dos investimentos em saúde, educação e segurança. Os direitos trabalhistas e da seguridade social foram praticamente anulados. O Brasil voltou ao mapa da fome, donde tinha saído em 2014. Um olhar em direção a outros países vai encontrar crianças amedrontadas pela guerra, jovens sem perspectivas de futuro, idosos e doentes fugindo da intolerância étnica e religiosa, pais e mães chorando sem ter comida e agasalho aos filhos. Nesta situação é possível viver a alegria que nos pede a liturgia?

         Sim! Pois o cristianismo é a religião da alegria. Na carta aos Gálatas entre os mais de nove frutos do Espírito Santo, a alegria está em segundo lugar da lista (Gl 5,22-23). Movido por esta fé, São Francisco de Sales dizia: “um santo triste é um triste santo”, o que equivale a dizer: “um cristão triste é um triste cristão”. O Papa Francisco, professando a mesma fé afirma: “Não existe cristão sem alegria. A carteira de identidade do cristão é a alegria, a alegria do Evangelho, a alegria de ter sido escolhido por Jesus, salvo por ele, regenerado por Jesus. A alegria daquela esperança que Jesus espera de nós, a alegria que, nas cruzes e nos sofrimentos desta vida, se expressa de outra maneira que é a paz, na certeza de que Jesus nos acompanha. Está conosco”.

Apesar das situações que nos trazem dor e sofrimento, nós cristãos não podemos nos deixar abater pela tristeza. Nossa fé nos ensina que Deus é nosso Pai e nos quer felizes. Ele conhece os nossos sofrimentos e preparou para nós um futuro diferente. Para os que, diante de tanto sofrimento, dizem que a vida não tem sentido, nós cristãos afirmamos que no horizonte da história há um sol que ilumina para sempre. Com São Paulo afirmamos: “Nós nos alegramos também em nossas tribulações, sabendo que a tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada e a virtude provada desabrocha em esperança” (Rm 5,3-4). O Papa Francisco, expressa a relação entre alegria e esperança da seguinte forma: “A alegria sem esperança é simples divertimento, passageira, mas uma esperança sem alegria não é esperança, não vai além de um saudável otimismo. A alegria fortalece a esperança e a esperança floresce na alegria. A esperança de viver e de chegar ao Senhor se torna uma alegria que se apodera de toda a Igreja. Que o Senhor nos dê esta graça, de uma alegria grande, que seja expressão de esperança, uma esperança forte, que se torne alegria em nossa vida. Que o Senhor custodie esta alegria e esta esperança, para que ninguém as tire de nós”. Ainda sobre a alegria o Papa Francisco, numa de suas audiências das quartas-feiras, lembrou que nós, cristãos “somos gente mais de primavera que de outono. (...). De primavera que espera a flor, que espera o fruto, que espera o fruto que é Jesus. Nesta mesma audiência, pediu que os fiéis olhassem para si mesmos e respondessem se conseguiam ver brotos de um mundo novo ou se viam apenas folhas amarelas nos ramos? 


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