Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 18/04/2018 às 15:40:00

“Bom Pastor”

MENSAGEM DO BISPO

 

         O quarto Domingo da Páscoa é também conhecido como o Domingo do Bom Pastor. Todos os anos, nas celebrações, proclama-se uma perícope  do capítulo 10º do Evangelho de São João. Ali, Jesus aparece como “Bom Pastor”.

         Certamente por isso o Papa Paulo VI em 1963 determinou que este fosse o “Dia Mundial de Oração pelas Vocações”, ocasião em que é enviada uma mensagem a todos os fiéis.

O tema deste ano é: “Escutar, discernir e viver a chamada do Senhor”.

         O Papa lembra que diante de uma sociedade rumorosa, de abundância frenética, de estímulos e informações, beirando a uma certa caotização da vida, é preciso “escutar, discernir e viver a Palavra de Deus que nos chama do Alto”.

         Dentre as muitas vocações apresenta-se também a vocação ao ministério presbiteral. Como as demais, esta vocação tem suas exigências.

         A Diocese de Cornélio Procópio deseja que seus padres, no exercício do ministério sejam marcados pelos mesmos sentimentos e tenham as mesmas atitudes de Cristo; que substituam, como pede o Papa Francisco, a atitude de juízes num tribunal pela de irmãos que, num hospital de campanha, consolam e atuam cheios de misericórdia; que dispensem a aplicação da lei pura e simples e, como Verônica, enxuguem compassivos os rostos sofridos dos irmãos e das irmãs; que deixem de lado qualquer tipo de pregação moralista para favorecer uma experiência viva de Deus que vê o sofrimento do povo, ouve seus clamores e desce para libertá-lo (cf. Ex3,7-8); que vivam com simplicidade e até mesmo com austeridade, isentos de preocupação por carros luxuosos, casas suntuosas, banquetes requintados, roupas refinadas e apego ao dinheiro.

Um padre não nasce feito. É preciso uma séria e longa preparação. Em nossa Diocese os candidatos passam por três estágios bem distintos: Seminário Menor e Propedêutico, Seminário Maior da Filosofia e Seminário Maior da Teologia. A formação é progressiva, mas desde o início procura-se incutir nos jovens candidatos a espiritualidade do “Bom Pastor” que vive em meio às ovelhas, passa inclusive a ter “cheiro de ovelha” e diante dos perigos não foge como os mercenários. Muito pelo contrário, para defender suas ovelhas é capaz de dar a própria vida.

Como realizar este objetivo?

Eis o que diz o Concílio Vaticano II, no Decreto sobre a Vida e o Ministério dos Presbíteros, Presbiterorum Ordinis: “Seguindo, no exercício do ministério, o exemplo de Cristo Senhor, cuja vida era cumprir a vontade daquele que o enviara para levar a termo a sua obra ((Jo 4,34)”.

Neste sentido, São Gregório Magno, numa obra intitulada “Regra Pastoral” apresenta uma proposta bem concreta: “Tenha o pastor uma compaixão que o faça próximo de cada um e uma contemplação que o arranque da terra mais que tudo. Pela força de seu amor de pai, cuide das enfermidades dos outros. Pela altura de sua contemplação, eleve-se sobre si mesmo, desejando aquilo que não se vê. Não fique desatento com as misérias do próximo quando se entrega à contemplação. Não abandone suas altas aspirações quando se faz próximo das misérias humanas. (...). Os verdadeiros pastores não apenas se entregam à contemplação daquele que é a cabeça da Igreja, o Senhor, mas também descem em direção dos membros pela compaixão. É por isso que Moisés, frequentemente, entrava na Tenda e dela saía. Dentro, ele se alegrava na contemplação. Fora se apressava em atender as necessidades dos que sofrem. Dentro, ele meditava os segredos de Deus. Fora, carregava os fardos dos pobres. Em suas dúvidas, ele sempre retornava para a Tenda e consultava o Senhor diante da Arca da Aliança. Assim deu, certamente, o exemplo aos pastores: quando fora eles hesitam sobre as decisões a tomar, voltaram sempre aos seus corações, transformados em tendas. Consultarão o Senhor diante da Arca da Aliança, se procurarem neles mesmos, em seu interior, as páginas do Livro Sagrado para a solução de suas dúvidas. Também a Verdade em pessoa, que se tornou visível para nós, assumindo a nossa humanidade, se dedicou a oração na montanha e realizou milagres nas aldeias. É um exemplo dado aos verdadeiros pastores. Entregues a contemplação, deixem-se ocupar com as necessidades dos mais fracos pela compaixão. A caridade se dirige maravilhosamente para as alturas quando ela se deixa, com misericórdia, atrair para as misérias do próximo. Mais ela desce com amor para as fraquezas, mais ela se dirige às alturas”.

Que Nossa Senhora, no seu Imaculado Coração, proteja os nossos padres e abençoe todos os nossos seminaristas.


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