Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 11/02/2019 às 16:58:44

O DIACONATO

A ordenação de cinco dos nossos seminaristas para a Ordem dos Diáconos em vista do ministério presbiteral, proporciona-nos o ensejo de apresentar em rápidos traços o que ensina a teologia sobre o referido ministério.

Desde que a Bíblia usou a palavra Diácono para designar um ministério específico na Igreja (Fp 1,1 e 1Tm 3,8-12) a história do diaconato tem muito que contar. No entanto, por questão de espaço, vamos nos deter nos seus momentos mais específicos.

Embora o ritual, na Prece de Ordenação Diaconal, se refira aos Sete homens de bem escolhidos pelos Apóstolos para ajudá-los no serviço diário, o Ato dos Apóstolos não usa a palavra Diácono, mas apenas o verbo “diakonein” que significa servir, e o substantivo “diaconia” que significa serviço.

Santo Inácio de Antioquia, martirizado no ano 107, foi o primeiro a apresentar o diaconato como um grau da hierarquia. Segundo ele os Diáconos não se limitam ao “serviço das mesas”, mas, junto com os Presbíteros se tornam os primeiros colaboradores do bispo e devem ser honrados como se fossem o próprio Jesus Cristo.

São Policarpo, que segundo Tertuliano, foi ordenado pelo Apóstolo São João, lembra que os Diáconos “são servidores de Deus e de Cristo, e não dos homens”.

As Constituições Apostólicas, um documento litúrgico-canônico, escrito por volta do século III, orientam que os leigos devem ter grande confiança no Diácono, manifestando-lhe os seus desejos, sem se dirigir diretamente ao Bispo, pois ninguém pode se aproximar de Deus altíssimo, senão através do Messias. Por isso, o Diácono deve ser os “ouvidos, os olhos, a boca, o coração e a alma do Bispo para que o Bispo não tenha que ocupar-se de infinidades de assuntos, mas apenas dos mais importantes, conforme o conselho de Jetro a Moisés”.

Como se pode ver, no começo da Igreja, tanto a pessoa do Diácono, quanto o seu ministério eram tido em grande estima. Contudo, com o passar do tempo, o prestígio foi se desvanecendo e o diaconato veio a ser apenas um estágio no processo de preparação à Ordem do Presbiterato.

O Concílio Vaticano II, porém, suscitou uma nova compreensão. O Diácono, nesta nova compreensão, antes de tudo, é sinal sacramental do mistério de Cristo Servo e da Igreja servidora. Nesta perspectiva, o ministério diaconal adquire dimensão profética com as seguintes características:

  1. Pela graça recebida na ordenação, o Diácono recebe a missão de renovar na Igreja e à Igreja o convite de Jesus a segui-lo na pobreza, e como ele, a sentar-se à mesa com os pecadores, os pobres, os sem dignidade e os sem esperança.
  2. Dentro da mesma compreensão, o Diácono é chamado a um discernimento evangélico da injustiça e da violência no mundo, fazendo crescer na Igreja uma consciência que seja capaz de pôr a força do Evangelho diante dos poderosos da história e dos sistemas opressivos e de exclusão, e que seja também capaz de motivar as pessoas na sua busca de mais vida e mais dignidade.
  3. Ainda nesta mesma visão, o Diácono assume a tarefa de, a partir de situações concretas de conflito, anunciar a Palavra do Evangelho com toda a simplicidade, mansidão e coragem, chamando todos os cristãos à perseverança, para que não troquem o caminho do Evangelho pela eficácia dos meios violentos.

A compreensão do Diácono como sinal sacramental de Cristo Servo e da Igreja servidora, além da dimensão profética, tem outra qualificação: a de servo da comunhão.

O Diácono é servo da comunhão que vem do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Esta comunhão se anuncia pela Palavra a todas as pessoas, se torna visível na comunhão com os pobres e se celebra ao partir do Pão.

Justamente porque servo da Palavra anunciada e partilhada na Eucaristia, o Diácono é também servo de comunhão em meio aos pobres, os primeiros destinatários da Boa Nova.

Outra conseqüência do fato de ser o Diácono sinal sacramental do mistério de Cristo Servo e da Igreja servidora será o testemunho do serviço enquanto dom e entrega de si mesmo, a ponto de dar a própria vida, se necessário for.

O testemunho do Diácono se exprime mediante a escolha de meios pobres, refutando a lógica do poder, até mesmo do poder religioso. Neste seu testemunho de serviço e de entrega compete ao Diácono acompanhar as fadigas e as lutas das pessoas, mas, sobretudo, dos pobres, partilhando de seus cansaços, de suas alegrias e de suas esperanças, referindo-as sempre à urgência do Reino de Deus.

O compromisso com a vida, a paz, o trabalho, a marginalização aparece hoje para os cristãos como dimensão constitutiva. A partir dela se mede a profundidade de fé no Cristo ressuscitado. É partir dela também que se deve avaliar o testemunho do ministério diaconal.

O Espírito do Senhor, verdadeiro protagonista do caminho da Igreja apostólica e da Igreja de todos os tempos, indicará para cada situação as modalidades deste testemunho.

O Diácono, homem do Espírito, porque servo de Jesus, na oração assídua e perseverante, saberá discernir o caminho concreto que o Senhor pede dele e da sua Igreja, a partir das alegrias e sofrimentos dos homens e mulheres do mundo de hoje.


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